Teatro Nô

08.01.2025

Máscara Noh yoroboshi

Na época em que surge no Japão a civilização dos samurais, classe guerreia orgulhosa de descender de famílias de heróis, com nomes como Heike, Genji ou Ise, na Europa dava-se o declínio da era dos Cavaleiros.

Tal como os europeus exaltaram os seus cavaleiros na Idade Média, os japoneses também o fizeram com os seus samurais. O código de honra samurai, impunha virtudes de heroísmo, generosidade, lealdade até a morte ao senhor feudal, a proteção dos fracos e o desprezo pela covardia, avareza e traição – conceitos derivados das doutrinas do zen-budismo.

No ano de 1374, o xógum Yoshimitsu participou numa apresentação de Kwanami, e o seu filho Zeami (de apenas 11 anos de idade), ambos atores de sarugaku. Yoshimitsu apreciou tanto o espetáculo que vinculou os dois atores à sua corte. Sob a proteção do xógum, Zeami estuda técnicas de diversas artes – entre elas dengaku e kuse-mai, e se dedica e aperfeiçoa, criando o seu próprio estilo por cerca de 34 anos, tornando-se um consumado ator, dramaturgo e diretor, dedicando-se à escrita de textos e música para cerca de 100 peças nô que ele próprio irá protagonizar.

Após a morte de Yoshimitsu e a perda de um filho, Zeami retira-se da corte e passa a escrever sobre nô, que significa literalmente “talento”. Foi responsável por escrever 3 importantes tratados sobre o teatro nô e por eles fica conhecido como o Aristóteles do teatro japonês. Porém esses documentos foram feitos apenas para serem passados à sua família, um legado secreto de arte, não se tornando público no seu tempo.

Com a ascensão das peças Nô, anuncia-se a era dourada do teatro japonês. Considera-se a existência de 5 categorias de peças apresentadas no programa de um espetáculo Nô: 1- trata dos deuses; 2- trata das batalhas, (geralmente sobre algum samurai heróico); 3- conhecido como o grupo das “peças das perucas” ou “peça de mulheres” (o ator principal usa peruca e interpreta uma mulher); 4- mostra o destino de uma mulher com o coração partido, ou que tenha perdido um filho ou seu amante, o que a torna dramaticamente mais forte; 5- conta uma lenda, encerrando o programa.

Relativamente aos atores no teatro Nô, considera-se a existência de quatro categorias: o shite (ator principal), o waki (ator secundário), o hayashi (músico), e o ator kyoguen.

O shite é o único ator que usa máscara, e desempenha vários papéis. Podem ser heróis, velhos barbados, mulheres: jovem noiva ou anciã atormentada. Por ser o principal, costuma atuar sempre no centro do palco. O ator waki apoia o shite, e não usa máscara. Pode fazer o papel de sacerdote, monge, ou de um samurai, mas são sempre personagens reais.

A orquestra de nô (hayashi) é constituída por quatro instrumentos musicais: tamboril pequeno (kotsuzumi), de som grave, que contrasta com o tamboril grande (otsuzumi ou okawa), de som agudo e quase metálico, uma flauta de bambu (nôkan) e um tambor de baquetas (taiko). E o coro (jiutai) é formado normalmente por 8 homens que cantam, todos usam roupas escuras e sentam-se no chão no início da peça.

Quanto às máscaras do teatro Nô foram criadas no período Azuchi-Momoyama (1573 até 1603) e há informação de 60 tipos diferentes. São vistas como a expressão literal de uma verdade superior e conferem ao ator uma forma de vida mais elevada. As máscaras são esculpidas de tal forma que o real e o fantástico são engenhosamente combinados para produzir uma beleza sutil, são consideradas obras de arte de grande qualidade e simbolizam a sua personagem na forma mais pura. Dependendo do movimento do ator e do ângulo, a máscara pode expressar diferentes feições no palco.

O palco Nô tradicional é uma plataforma quadrada de cedro de mais ou menos 5,5m de largura com 3 lados abertos. Há quatro pilares de madeira, chamados de metsuke-bashira, significativa referência visual para o ator se posicionar no palco. O fundo do palco é sempre o mesmo, chamado de Kagami-Ita, ou placa-espelho, onde é pintado um grande pinheiro como símbolo da vida eterna.

A arte nô obriga a uma extrema concentração. Por várias horas o ator encarna a personagem de modo a que os seus gestos e movimentos não contradigam a sua máscara. Pelo seu poder criativo e proximidade com os traços basilares da cultura e caráter japonês, as peças nô resistiram íntegras desde o século XIV.